segunda-feira, 30 de junho de 2014

Eu vou crer no incompreensível

"Minha força esvai
Me sinto só
Tentando ver saída à frente
Só existe um caminho

Cansado estou de lutar
E eu conheço a minha dor
Só existe um caminho

Eu vou olhar para o alto
E acreditar nos teus cuidados
Vou me firmar sobre a rocha
A tempestade passará e eu ficarei em pé

Confiarei minha vida a Ti
Descobrirei o que tu tens para mim
Tua palavra não falhará
Se eu passar pelas águas
Elas não me submergirão
Só existe um caminho

Se eu olhar apenas no visível
Eu ficarei abalado

Mas eu vou crer no incompreensível
Pois o meu Deus está comigo

Comigo estás
Tu não me deixarás jamais"


(Heloísa Rosa)







Uma amiga me enviou hoje esta música. Achei muito forte! Parecia até que quem compôs estava sentindo a mesma coisa que eu ou algo parecido. Uma parte em especial me chamou bastante atenção: "Eu ficarei abalado/Mas eu vou crer no incompreensível". Sim, existem situações nas nossas vidas em que, inevitavelmente, ficamos abalados. Somos humanos, falhos e sensíveis e as circunstâncias naturalmente nos abalam. Cabe a nós decidirmos continuar andando ou ceder a tentação de nos entregar. Para continuarmos caminhando é imprescindível se firmar sobre a Rocha, Jesus. 

Mas a parte que mais mexeu comigo foi a que diz:"Eu vou crer no incompreensível". Vou ser bastante sincera com vocês. Racionalmente pensando, nada, absolutamente nada que eu possa imaginar que Deus faça na minha vida e através da minha vida seja mais precioso para mim do que a vida de Catarina. Falo isso tranquilamente porque Deus conhece o meu coração e eu poderia esconder isso de vocês, mas jamais dEle. Todas as vezes que parei para pensar no que Deus queria com tudo isso e o que de maravilhoso Ele pudesse fazer, não alcancei nada que superasse ou se igualasse a alegria e a plenitude de ter a minha filha comigo. 

Fico muito feliz quando leio cada comentário, dizendo o quanto cada um de vocês tem sido tocado e transformado através da minha história, dos meus textos e da minha fé. Porém, mais uma vez, serei sincera com vocês. Isso para mim é bom, mas é muito pouco. Transformar a sua vida é muito "pouco" diante da minha dor de perder a minha filha. Penso frequentemente também sobre outros filhos e, ainda que Deus me conceda uma nova benção, nenhum deles vai preencher o lugar de Catarina ou apagar a cicatriz que já foi feita no meu coração. 

É exatamente aí que a fé faz toda a diferença. Sendo ela a certeza das coisas que não se vêem, eu sigo em frente. Pela certeza do que os meus olhos não conseguem ver e pelo que não compreendo, sabendo que é a minha limitação que não me permite imaginar algo maior do que a presença da minha filha. 

MAS EU VOU CRER NO INCOMPREENSÍVEL!!!



sexta-feira, 27 de junho de 2014

E minha eternidade durou apenas alguns segundos

Durante este período, passei por uma grande frustração e por várias outras pequenas frustrações. A maior delas foi perder a minha filha, como todos vocês já sabem. As pequenas foram várias: não ter amamentado, enquanto meu peito jorrava leite; passar VÁRIOS dias sem poder tocar ou falar com minha filha (por conta da hipertensão pulmonar, quanto mais agitada ela estivesse pior ficada seu quadro); ter alta da maternidade e ir embora sozinha e muitas outras.

Mas a "pequena" frustração que mais me marcou foi o fato de não ter podido carregá-la no colo depois do dia do seu nascimento. Não é incomum eu reviver esta frustração e sentir uma tristeza profunda. Mas foi pensando sobre isso que Deus me mostrou seu cuidado com todas as coisas. 

Sempre quis ter parto natural. Minha bolsa rompeu, mas eu não entrei em trabalho de parto. Antes, quando eu pensava em indução do parto, sempre me dava um frio na espinha. Eu achava que não ia dar conta do "tranco". Mas no dia que aconteceu, não tive muito tempo para raciocinar. Meu obstetra entrou no quarto e falou: " A ordem das coisas se inverteu um pouco. Sua bolsa rompeu e você não está tendo contrações. Vamos precisar induzir o parto!". Eu prontamente respondi: "Ok!"

Mal sabia eu que aquela decisão me permitiria viver um momento único, momento que eu teria sido privada caso tivesse optado pela cesárea. 

Acredito que vocês saibam que quando o bebê nasce de parto natural, imediatamente o obstetra o entrega para a mãe. E eu consigo me lembrar claramente deste momento. Minha princesa nasceu e imediatamente o obstetra a colocou em cima da minha barriga. Ela abriu os olhinhos e olhou nos meus. Jamais conseguirei esquecer este momento. Como um amigo me disse: "Nossa eternidade dura apenas um dia!" A minha durou apenas alguns segundos, talvez um minuto. Os segundos ou minuto mais preciosos da minha vida.

Obrigada, Pai, pela oportunidade de carregar a minha filha mesmo que por poucos segundos, talvez um minuto, e me fazer acreditar que tudo valeu a pena! 



Minha eternidade!
                           

quarta-feira, 25 de junho de 2014

E eu apenas existo...

Hoje é um daqueles dias para se apagar. Não, não aconteceu nenhuma outra tragédia. Mas sabe quando termina o dia e você sente que ele não valeu de muita coisa? Pouco aprendizado, poucos sorrisos, nenhuma gargalhada. Seu trabalho não rende. Você não consegue fazer diferença na vida do outro, seja com um sorriso, um abraço ou uma palavra de conforto. Sei lá, acho este sentimento de inutilidade e mau aproveitamento do tempo ruim. É como se eu estivesse somente existindo e não vivendo de fato. Na verdade, parece que em vários dos meus dias este sentimento de somente existir tem permeado meus pensamentos. Sabe quando você vive esperando que os dias passassem logo para que você se sinta melhor?! Esperando ansiosamente que a dor melhore e seja pura e simplesmente transformada em saudade?! Meus dias tem sido assim, no meio de uma tristeza sem fim, brotam alguns sorrisos e algumas gargalhadas sinceras, que servem como anestésico para a dor. E eu apenas existo, aguardando os dias de viver! E eu apenas existo, aguardando as manhãs de alegria prometidas após as noites de choro.  

E as lágrimas insistem em cair e o coração se mantém apertado. 

terça-feira, 24 de junho de 2014

Não, eu não sou forte

Acho que a frase que eu mais tenho ouvido ultimamente é: "Você é forte. Você vai conseguir passar por isso!". Nunca odiei tanto ouvir esta frase, porque, automaticamente, o meu pensamento era: "Nossa, como eu desejo ser fraca. Certamente as pessoas fracas tem o direito de criar os seus filhos. Como eu sou forte, este direito me foi usurpado!".

Inevitavelmente depois de ouvir tantas vezes a mesma coisa, resolvi parar para refletir. Será que eu sou mesmo forte? Ou as circunstâncias me fizeram forte? O que veio primeiro? Eu cheguei a seguinte conclusão: a circunstância vem primeiro! (me dê o direito de discordar de você, caso você acredite o contrário!). Posso falar sobre isso com um certa propriedade. 

Vamos a duas fortes situações que passei na vida que me permitiram chegar a essa conclusão. A primeira aconteceu há exatos 10 anos. Eu, na época com 17 anos, tinha acabado de passar no vestibular e tinha ido no mês de fevereiro passar as férias no RJ, onde os meus avós moravam. Infelizmente, aquelas não foram as melhores circunstâncias para um período de férias, porque a minha avó estava gravemente doente e internada no CTI. A idéia inicial era passar o mês de fevereiro e retornar para Salvador, mas como eu só tinha passado no vestibular para começar o curso no segundo semestre do ano, meu irmão sugeriu que eu ficasse no RJ enquanto minha avó estivesse no hospital para ajudar. E assim aconteceu. O que eu não imaginava era que esta estadia duraria 6 meses. Sim, eu passei 6 meses morando em uma cidade que não era a minha, longe dos meus pais, dos meus irmãos e dos meus amigos, me revezando diariamente com o meu avô para que um de nós estivesse no hospital para dormir com minha avó. Sim, ai você pensou: "Nossa, como ela é forte! Tão nova e conseguiu enfrentar uma situação tão difícil!". Não, eu não sou forte. As circunstâncias me fizeram forte. Primeiro eu fui exposta a uma situação e precisei enfrentá-la, para dai então ser considerada forte. A forma como eu encaro as circunstâncias é que me fazem forte. Eu poderia ter simplesmente desistido, ligado para casa e pedido a meus pais que comprassem a minha passagem de volta. Prontamente entraria no avião e retornaria para a minha realidade! Enfrentar a situação foi o que me fez forte. 

A segunda situação é a que estou vivendo agora com a partida da princesa Catarina. Ninguém, absolutamente ninguém está "preparada" ou tem força para enfrentar a perda de um filho. Você não se faz forte para enfrentar a perda de um filho. A perda do filho é que te faz forte. A circunstância me foi imposta e, desta vez, eu não tive a opção de pegar um avião e "fugir" para a minha zona de conforto. Eu fui obrigada a enfrentar a situação. E a forma como eu a encaro é que me faz forte. E hoje eu posso dizer: "Não, eu não sou forte. Eu estou forte, porque as circunstâncias me fizeram assim!". A sua forma de encarar os problemas é que determina a sua força. Porque a Bíblia diz:" E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo." 2Cor 12:9. Na sua fraqueza e não na sua força é que se aperfeiçoa o poder de Cristo sobre a sua vida. Não, eu não sou forte. O poder de Deus se aperfeiçoa na minha vida e tem me permitido seguir em frente. As circunstâncias me fizeram forte. O poder de Deus, aperfeiçoado na minha fraqueza, me fez forte. 






quinta-feira, 19 de junho de 2014

A dor do retorno

Cá estou eu de plantão. A auxiliar de enfermagem me chama para fazer uma ultrassonografia. Como eu estava ocupada em um outro laudo, ela sentou ao meu lado e comentou: "Dra, fiquei com pena da mãe do menininho que a senhora vai fazer o exame agora. Ela disse que está sendo muito difícil retornar para este hospital. Na hora imaginei que ela tivesse perdido algum parente, um pai, uma mãe, não sei. Ai ela disse que perdera seu filho de 9 anos depois de um acidente de carro faziam 4 meses!" Imediatamente, compartilhei da dor desta mãe. Senti vontade de abraça-la, de dizer que eu sentia muito e que sabia exatamente que dor era aquela que ela estava sentindo. Não o fiz. Mas foi inevitável novamente lembrar de tudo que passei. Exatamente 1 mês e 1 dia após me despedir da minha filha, precisei retornar a maternidade. Estava apresentando um sangramento no pós parto tardio e precisei ser submetida a uma curetagem para investigação. Assim como a mãe do meu paciente, eu entendo o quanto é difícil superar e retornar ao palco das nossas maiores dores. Espero que, com o olhar e o cuidado, eu tenha conseguido repartir com ela a dor. As circunstâncias nos fizeram mais fortes e nos resta seguir em frente e desbravar novos palcos, e que estes novos palcos testemunhem de momentos mais alegres.   

quarta-feira, 18 de junho de 2014


"FILHO é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo" 

(José Saramago)



E o tanto que eu agradeço por este empréstimo! S2

Prioridades

Esta conversa sobre as prioridades da nossa vida é extremamente repetitiva, mas, volta e meia, pego alguém se aconselhando sobre que decisão tomar. Para se tomar uma decisão, por mais difícil que ela pareça, o primeiro passo é definir as suas prioridades. Não faz sentido algum você se mudar da sua cidade, por conta de um novo emprego, se a sua prioridade for a sua família e não o seu emprego. Você não vai trocar o seu emprego por uma viagem, caso a sua prioridade seja o seu emprego. E por aí vai. Poderia citar mil exemplos diferentes e possivelmente você iria se identificar com algum deles. 

Hoje eu comecei a pensar em prioridades, após lembrar de uma dia quando estava conversando com minhas amigas (quer dizer, conversando não, gritando, todas juntas ao mesmo tempo, pouco se importando sobre quem estava ouvindo o que!) e uma delas, no meio deste confusão, me perguntou: "Amiga, você não tem vontade de ter a sua própria casa?" e eu prontamente respondi: "CLARO que tenho! Eu amo coisas de casa, adoro decoração. Amaria ter um apartamento meu!" (Sim, eu moro de aluguel!). E continuei falando: "Só que a minha prioridade não é esta! Eu só vou ter o meu apartamento no momento em que eu puder pagá-lo, sem sacrificar todas as coisas que são mais importantes para mim. Minha prioridade é estar com a minha família, com meu marido, com meus filhos. Se for preciso, eu moro de aluguel a vida toda, mas não abro mão do que para mim é o mais precioso". 

Eu gosto do meu trabalho, o faço com prazer, mas ele não é, nunca foi e nunca será a MINHA prioridade. Acho que o trabalho é super importante, é ele que paga as minhas contas e me traz também realização. Se esta for a sua prioridade, siga em frente, o importante é você colocar "a sua prioridade em primeiro lugar". Não importa qual seja ou quais sejam elas. Nós podemos ter prioridades completamente diferentes, mas seremos muito mais felizes quando conseguirmos estabelecer as nossas e esforçarmos-nos ao máximo para respeitá-las.

Eu aprendi isso há algum tempo atrás e, como achei bastante pertinente, resolvi compartilhar com vocês. As minhas prioridades são: Deus (não estou falando sobre frequentar igrejas ou cerimônias as mais diversas, estou falando de intimidade com Deus), família e trabalho. E assim tenho vivido! Me apegando com Deus porque sem Ele nenhuma das outras coisas faz sentido. Cuidando e dando o meu melhor pela minha família. Fazendo o meu trabalho da forma mais responsável que posso. 

E assim vou vivendo feliz! Quem sabe um dia eu tenha um apartamento, lindamente decorado, e lhe chame para tomar um café comigo?! 

E você? Quais são as suas prioridades? 

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Hoje fazem 2 meses!

Hoje fazem dois meses e, por incrível que pareça, ainda não me derramei em lágrimas (só em um único momento, que já, já conto por aqui). A princípio, porque nem tive tempo de fazê-lo, pois estou desde 7 horas da matina na labuta. Segundo porque queria tentar que o dia de hoje e esta postagem fossem diferentes. 

Já reli algumas vezes todas as postagens que fiz por aqui e no facebook e, em todas elas, apesar de muito amor, sentia também muito "peso" pelo conteúdo muito forte. Recebi muitas mensagens, algumas públicas, outras que somente eu tive a oportunidade de ler. Na maioria delas, o conteúdo era bastante parecido, cada um, a sua forma, me dizia que tinha sido bastante tocado e que tinha sido levado a uma importante reflexão. Colocavam ainda quanto amor sentiam lendo cada uma delas. 

Mas hoje percebi que, apesar de conseguir escrever muitas coisas, ainda é muito difícil conseguir falar de Catarina. Consigo falar sobre a doença dela, por algumas coisas que passamos no hospital, mas todas as vezes, absolutamente todas as vezes, que tento falar dela é inevitável que as lágrimas venham e que as palavras sumam. Vamos a parte do dia, a única diga-se de passagem, em que chorei. E foi com uma destas situações que falei acima. Um colega de trabalho foi hoje no meu setor para discutir um exame que tínhamos feito. Ele me encontrou várias vezes quando ainda estava grávida. Quando ele entrou na minha sala, demorou uma fração de segundos e ele me perguntou: "Não era você que estava grávida?!". E aí foi inevitável. As lágrimas escorreram e as palavras sumiram. Ele logo entendeu, sentou do meu lado, esperou e, finalmente, me acalmei e consegui retomar o trabalho. 

Hoje fazem dois meses e eu gostaria de dar um passo adiante. Gostaria de, pouco a pouco, conseguir falar da minha filha com um sorriso estampado no rosto, por tudo de bom que ela gerou em mim e por toda felicidade que trouxe à minha vida. 

Um amigo muito querido fez o seguinte comentário em uma das minhas postagens: "Parabéns, mamãe! Muitas coisas lindas nasceram de você nesse período". E isso é um fato. Muitas coisas lindas nasceram de mim e por que não me apegar nestas coisas lindas e seguir em frente? 

Vamos "começar do começo"! Me descobri grávida através de um teste de farmácia e não poderia perder a oportunidade de contar por aqui como foi. Quem já fez o teste sabe que  é só colocar uma amostra de "xixi" numa varetinha e voilá...dois tracinhos e você "torna-se" mãe. Eu tinha absoluta certeza que não estava grávida, afinal nós tínhamos usado preservativo e, como o coitadinho tinha furado, prontamente tomei a pílula do dia seguinte. Sendo assim, fiz o teste por "desencargo de consciência" por minha menstruação estar atrasada alguns dias (que, por sinal, eu não sabia quantos). Voltando. Fui para o banheiro, fiz "xixi" na tal da varetinha, aguardei um "micro" tempo (porque mesmo tendo certeza que a gente não está grávida, bate um frio na espinha) e quando olhei estavam lá os dois tracinhos. Como eu não sou nem um pouquinho escandalosa, comecei imediatamente a gritar do banheiro: "Bruno, Bruno, venha aqui rápido!". Ele como alguém que já me conhece e sabe dos meus dramas me responde: "O que foi, Juliana?". E eu: "Venha aqui rápido! Eu tô grávida!". Ele veio displicentemente como quem sabia que iria ouvir um "tô brincando!". E a cena que ele encontra é: eu ainda sentada no vaso sanitário, com as mãos na cabeça e gritando desesperadamente: "Mô, pelo amor de Deus, pega ai as instruções. Leia de novo, leia de novo. Tem certeza que é isso mesmo?" Ele pegou só para me acalmar, olhou novamente e disse: "Você tá grávida!". Eu só consegui ter forças para levantar do vaso e me jogar na cama. Nestas horas, uma infinidade de pensamentos invadem a sua cabeça, eu não sabia direito o que pensar e não me lembro exatamente quais foram os pensamentos que passaram na minha cabeça naquela hora. Mas de uma coisa eu me lembro claramente. Bruno olhou para mim, com um sorriso de orelha a orelha e perguntou: "Posso comemorar?". E eu estava tão desesperada que não conseguia nem responder direito, mas, naquele dia, eu já me senti mãe. Na manhã seguinte, foi o dia de correr para o laboratório e fazer o beta-hCG. E o pior foi que o danado demorou um dia inteiro para sair e eu passei o dia inteiro atualizando compulsivamente a página do laboratório. E lá pelas tantas, no final da tarde, saiu o bendito resultado, que me confirmou que eu  iria receber o melhor presente da minha vida. 

Seguiram-se os meses e eu fui me apaixonando, dia a dia, pela ideia de ser mãe. Eu simplesmente AMEI estar grávida. Amei cada mudança no meu corpo. Amei ver a minha barriga crescendo. Experimentei a sublime sensação de sentir a minha filha mexer dentro de mim! (prometo que, em breve, contarei este momento em detalhes!) e o resultado não poderia ser outro. Eu me senti muito feliz e realizada e naturalmente vinham os milhões de elogios dizendo que eu estava linda, que eu era uma grávida linda, que nunca tinham visto uma grávida tão linda. Mas o que eles não entendiam era que eles não estavam vendo uma grávida linda, eles estavam simplesmente vendo uma grávida feliz. Eu transbordava felicidade!

Felicidade, a tão sonhada e almejada felicidade, estava ali comigo. Em nove meses, eu enjoei, senti minhas costas doerem, senti meu ciático ser comprimido, mas nenhuma destas sensações me roubaram a alegria e a plenitude de estar grávida. 

Hoje fazem dois meses que Catarina não está mais entre nós! Mas eu não quero me entristecer. Quero somente lembrar de todas as boas sensações que ela me permitiu viver até hoje. Seja o susto, a ansiedade, a risada, a euforia, seja a alegria da chegada, seja a alegria da partida, porque a Bíblia diz: "Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto?". Eu creio! Sei que Cacá está na casa do Pai, na morada que Ele construiu para ela. E hoje esta é a minha maior alegria. Saber que hoje fazem dois meses, que a minha princesa mora no céu!

Te amo, filha! Sentirei saudade todos os dias, até o nosso reencontro!



Esta é a alegria que quero guardar para mim! (Por Blancorios)


domingo, 15 de junho de 2014

"Porque sem fé é impossível agradar a Deus"





No dia 01/02/2013, escrevi esta postagem no facebook! Hoje, enquanto lembrava da vida de Abraão lembrei de dois momentos diferentes. Um deles foi este, após a tragédia na boate em Santa Maria. O outro momento aconteceu no dia seguinte ou dois dias após o nascimento de Catarina. Ainda bem cedo pelo manhã, quando eu ainda estava internada no hospital, era natural pensar sobre tudo o que estava me acontecendo e tentar, de certa forma, entender o porquê. Lembro como se fosse hoje. Eu deitada na cama, olhei para o céu através da janela e imediatamente Deus me fez lembrar de Abraão! Sempre aprendi muito através da vida e da fé daquele homem. Naquele momento, entendi que não seria capaz de entregar minha filha como sacrifício, assim como ele fez com Isaque, ainda sabendo que ela não me pertencia. Confesso que não o fiz de livre e espontânea vontade, mas as circunstâncias me levaram a perdê-la. Somente neste dia, alcancei a compreensão da fé de Abraão! E agradeço a ele por ter me ensinado e me mostrado este caminho da fé. Porque sem fé, eu certamente já teria perecido. "Porque sem fé é impossível agradar a Deus" Hb 11:6. E neste dia 01/02/2103, eu desejei ter a fé como a de Abraão e assim o Senhor fez!

sábado, 14 de junho de 2014

Alguns dias a tristeza é inevitável

E quando a saudade aperta, é impossível conter as lágrimas. Hoje a saudade é tão grande que dói, dói muito. Todos os pensamentos me levam a você, filha, todas as lembranças e toda a saudade do que vivemos e de tudo que deixamos de viver. Os dias passam e a dor parece não diminuir e somente a saudade aumentar. Não consigo tirar do meu pensamento o dia que você chegou. Você nasceu e me foi entregue e, naquela fração de segundos, tive o grande privilégio de ver os seus olhinhos abertos me olhando. Mas tudo passou tão depressa e ainda é insuportável a dor por não ter podido mais te carregar em meus braços. Hoje não existem palavras reconfortantes! Somente uma profunda e inevitável tristeza e uma saudade sem fim.


A infinita saudade de te ter dentro de mim! (Por Blancorios)


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Catarina, um nome forte

Acho que a coisa que as pessoas mais gostam na vida é pegar na barriga de mulher grávida e puxar papo. Comigo não foi diferente. Tudo bem que só deu para notar que eu estava grávida lá pelo 5º/6º mês. Em qualquer lugar as pessoas perguntavam: - Menino ou menina? - Menina! - E como vai chamar? - Catarina! Uns diziam que era lindo, outros não comentavam se gostavam ou não. Mas era quase unânime a opinião de que Catarina era um nome forte. Catarina sempre se chamou Catarina, ainda antes de ser gerada. E eu, particularmente, gosto de nomes fortes.     

O que eu não imaginava era que por trás de um nome forte, existisse um ser humano tão mais forte. Não falo como mãe coruja, mas como alguém que foi muito impactada por ter tido esta pequena na vida. Catarina conquistou a todos que tiveram a oportunidade de conhecê-la, até aos que não estiveram fisicamente com ela. 

Ela era tão fofa, mas pequenina, nasceu com 2.860g e apenas 45 cm. Durante doze dias, lutou como uma guerreira. Quando as minhas forças pareciam acabar, a simples presença dela, tão plácida, tão em paz, me revigorava e me fazia seguir em frente. Catarina me ensinou neste tempo coisas que durante 27 anos não entendi. Conheci o amor de mãe, o mais nobre de todos os sentimentos. Conheci em mim um força que não sabia que existia. Aprendi a respeitar mais o outro. Aprendi a olhar para o outro com mais amor e menos julgamento. Aprendi uma medicina que não se aprende nos livros. Uma medicina mais humana, entendendo que cada médico tem vários pacientes, mas que para cada paciente, existe um "único" médico, no qual ele deposita toda a confiança. Aprendi, sendo paciente/mãe de paciente, a ser uma médica melhor. Aprendi, principalmente, sobre o amor. O amor de Coríntios 13, aquele que tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O amor que nunca falha. Aprendi do amor ao próximo. Aprendi mais do amor de Deus. 

Obrigada, filha, por ser a melhor parte de mim! 


                               


quinta-feira, 12 de junho de 2014

Eu adoro clichês

Eu adoro clichês, logo eu adoro o dia dos namorados (simples assim como a lógica matemática). Mas este meu gosto é recente. Até há pouco tempo atrás o meu discurso era: eu acho uma palhaçada essa história de "Dia dos namorados", "Dia disso", "Dia daquilo", isto tudo é só porque o pessoal quer vender e fica inventando história. Pensamento de uma revoltada que era (ou sou). Quem me conhece um pouquinho já sabe que eu sou daquelas mulheres "brabas". Um dos meus apelidos é Justina da Conga. E eu sempre perguntava: pai, quem é Justina da Conga? E meu pai sempre respondia: Justina da Conga é um mulher "braba" que mora lá no interior. Ah tá, respondia eu. Passada a fase da rebelde sem causa (eu me sentindo a madura), comecei a apreciar e extrair a parte boa de todas as coisas. Já que hoje é o dia dos namorados, porque não comemorar e aproveitar para dizer ao seu namorado/noivo/marido que você o ama?! (mais clichê que isso impossível). 

Eu adoro ler aqueles infinitos texto que as pessoas compartilham no facebook. 10 formas de ter um casamento feliz. As verdades sobre o casamento que ninguém diz. Que fique claro que eu não aprecio os livros de auto ajuda. Um destes infinitos textos me chamou a atenção. Basicamente o que ele dizia era: todos os dias não deixe de dar bom dia/boa noite para o seu marido e dizer o quanto o ama, isto pode melhorar e muito o seu casamento. E eu tenho me esforçado para praticá-lo. E não é que funciona (não é fórmula mágica, please). 

Quando eu chego ou ele chega do trabalho: - Boa noite, amor! Tava com saudade de mim? - Claro que sim, minha princesa! - Então venha me dar um abraço. Ele levanta e vem. E eu continuo - Me abraça forte. Me abraça mais forte, me ame, vá. - Eu tô te amando, amor! - Então você ama pouco! E ele: - Não amo nada. - Ama quanto? - Infinito. - Então eu te amo mais que infinito. - Mais que infinito não vale. O que é mais que infinito? - É gigante, mas tão gigante, que nem sei dizer o tamanho. E abro os braços o máximo que posso, tentando definir o tamanho do meu amor. - Mô deixa eu ir aqui, porque tenho que trabalhar. Eu vou para o quarto deixar as minhas coisas e penso: hoje, já valeu a pena! Porque mesmo que o dia tenha sido péssimo, aquele abraço foi suficiente para me fazer esquecer todos os problemas e lembrar que valeu mesmo a pena! Porque o que vale é o amor!

- Amor, vá comer! Enquanto eu durmo no sofá. Grito de lá: - Daqui a pouco eu vou. - Esta já é a quinta vez que você fala que tá indo. Vá agora! Eu já irritada, grito ainda mais alto: - Eu vou na hora que eu quiser, você não é meu pai! - Mais eu cuido de você, você não sabe se cuidar sozinha. E agora não é mais só você. São duas. Ai meu Deus, como é que eu vou fazer para cuidar destas duas mulheres?! Nesta hora, eu levanto, toda derretida e vou fazer o que ele mandou. E eu amo! Porque amor tem a ver com cuidado. 

As vezes eu grito do quarto: - Amor, vem aqui, por favor. - O que foi, amor? Eu estou ocupado. - Amor, por favor, venha! Ele, depois de resistir um pouco, vem. Cá estou eu soluçando. Ele esbugalha o olho e aflito pergunta: - O que foi, amor? Eu, no meio das lágrimas, respondo: - Tô triste, amor. - Por que você tá triste? - Tô com saudade. - Oh mô, eu também tô com saudade. Não chore não, por favor. Se lembra que a gente prometeu que não ia ficar triste, que só ia sentir saudade? - Lembro, mas eu não consigo. - Você sabe que nossa princesinha está no melhor lugar, né?! - Sei sim, mas eu não consigo, tô triste mesmo assim. Me olha carinhosamente como quem ama e como quem detesta me ver chorar. Me dá um longo e demorado abraço e diz:- Enxugue essas lágrimas, vá! Tome um banho, esfrie a cabeça. Eu tô aqui com você! 

Isso tudo porque ele me chamou para escalar uma montanha com ele e eu aceitei o 
desafio. Não sabíamos nós os percalços que precisaríamos encarar, mas prometemos que iríamos juntos até o fim, até o topo da montanha. Aqui estamos nós, mais fortes, mais unidos, construindo um amor ainda mais forte, sabendo sempre que teremos um ao outro. 

Meu amor, eu te amo mais que infinito, tão grande que eu não sei nem explicar. Você consegue inexplicadamente me fazer sentir mais amada a cada dia. Obrigada pelo nosso maior e melhor presente: Nossa Cacá! Ela sempre será o nosso melhor presente e nossa maior certeza que juntos somos mais fortes. Com amor, da sua maglelinha!




PS: E como eu adoro clichês: Bora Brasiiiiiiiiil! Rumo ao hexa!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Que todos nós tenhamos a "paciência de Jó"

Engarrafamento tem destas coisas. Ontem, indo para o trabalho, peguei um pequeno engarrafamento, o que me permitiu refletir sobre algumas coisas. Já há alguns dias, Deus tem me trazido a meditar sobre a vida de Jó. Para os que não conhecem, basta ler o livro de Jó no Antigo Testamento, para os que não querem conhecer, certamente já ouviram, ao menos, a expressão: " Fulaninho tem paciência de Jó". 


Deus permitiu que todas as coisas fossem retiradas de Jó, menos a sua vida! Em nenhum momento, Jó, com toda a sua dor, abandonou a Deus. Nos momentos de fraqueza, Jó chegou a questionou a justiça de Deus, mas nunca se voltou contra Deus. No capítulo 1, v. 21, Jó disse: "Nu saí do ventre de minha mãe, e nu retornarei para lá. O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor". E o v. 22 completa: "Em tudo isso Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma". 

A história da vida de Jó me levou a refletir sobre a minha história de vida. Jó era um homem de posses, com uma grande família e tinha sua saúde em perfeita ordem. A Bíblia fala ainda que Jó era homem íntegro e reto, que temia a Deus e se desviava do mal. Alguns podem pensar... assim é fácil ser íntegro e reto e temer a Deus quando se tem todas as coisas a disposição. 

Não acho errado pensar assim. Por que? Vamos a minha história: Juliana, 27 anos, filha de pais cuidadosos e carinhosos, que a amam muito e que sempre fizeram o que podiam e o que não podiam para oferecer o melhor. Nunca foi a melhor aluna da turma, mas sempre foi considerada uma boa aluna. Sempre cercada de muitos e bons amigos. Passou no vestibular de primeira. 6 anos depois se formou médica. Novo concurso, aprovação, 3 anos depois, concluiu sua residência médica em Radiologia e Diagnóstico por Imagem. Neste ínterim, se casa com o homem da sua vida e vivem juntos um excelente casamento (não é perfeito! Mas nos esforçamos para ser o melhor possível). Condição financeira boa, o que lhes permite fazer algumas viagens, sair com amigos e usufruir das coisas que mais gostam de fazer. Cerca de 2 anos e meio depois do casamento, inesperadamente, Juliana descobre que está grávida. 

Esta é a história de Juliana, prazer, eu sou Juliana, este é o resumo da minha história. Daí que, há cerca de 7 anos, Deus me permitiu ter um experiência muito forte com Ele, onde pude verdadeiramente entender os planos de Deus através do sacrifício de Jesus e passei a adorá-lo, entendendo Sua paternidade e Sua soberania sobre a minha vida. Durante estes quase 7 anos, confesso que foi "fácil" estar e permanecer nos caminhos de Deus. Para alguns, minha vida era quase "perfeita". Orar a Deus para que fosse feita a vontade dEle na minha vida e através da minha vida era "fácil". Orar a Deus e dizer: Senhor, eis me aqui, envia-me a mim, era "fácil". Orar o Pai Nosso e dizer: "seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu", era "fácil". É muito "fácil", quando os planos de Deus estão perfeitamente alinhados com os nossos planos. Difícil é quando os planos de Deus estão muito, muito distantes dos nossos planos, talvez até em direções completamente opostas.

Juliana dá a luz e nasce Catarina! Fruto de um sonho de Deus, pois Juliana e seu esposo não estavam planejando a chegada desta filha. Só que Deus levou para si aquele sonho e Catarina, 12 dias após o seu nascimento, foi morar com Ele. É aí que começa o "problema". Os desejos e planos de Juliana começaram a se distanciar dos planos de Deus. Durante os 12 dias que Juliana pode viver este sonho, em nenhum deles ela orou pedindo a Deus que fosse feita a Sua vontade. Juliana orava incessantemente para que fosse feita a vontade dela e que Deus permitisse que ela pudesse criar a sua filha. Diante de toda dor que ela sentia, vendo sua filha cheia de tubos e aparelhos, em um ato extremamente egoísta, ela deseja tão somente ter sua filha com ela. Foi, neste momento, que Juliana entendeu o quanto era difícil adorar a Deus na adversidade, quando os planos dEle não estão alinhados aos seus planos. Somente pela graça e misericórdia de Deus, que Juliana conseguiu seguir em frente. Clamando a Deus pelo entendimento de que Sua vontade é boa, perfeita e agradável. Deus tem ensinado a Juliana que é na adversidade que Deus reconhece os Seus. É quando uma lágrima escorre pelo rosto, que Deus enxuga e diz: Filha, eu estou contigo, mas foi necessário que assim fosse. Catarina está comigo e seria muito mais fácil para mim tê-la curado. Eu choro com você as suas lágrimas e o meu coração se entristece junto ao seu, mas Eu estou aqui sempre ao seu lado e nunca te abandonei. Mas foi necessário que assim fosse, porque a obra que Eu precisava fazer na sua vida e através da sua vida é muito maior do que você pode imaginar. Sua ferida vai cicatrizar, mas para sempre continuará lá, para que você lembre sempre que Eu sou o teu Deus e que esta é a marca da sua promessa. Como você incessantemente cantou enquanto estava no hospital: "Eu tenho a marca da promessa! Catarina tem a marca da promessa, que Ele me fez!"

Glorifique a Deus mesmo que doa, glorifique a Deus ainda que sua ferida esteja sangrante e ainda que os planos dEle estejam longe dos seus planos, porque: "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem penetrou no coração do homem, aquilo que Deus tem preparado para aqueles que O amam" 1Cor 2:9.

Não escrevo como quem quer dar lição de moral ou que deseja que a carapuça sirva a outro, mas tão somente a mim. Não sou perfeita. Passo muito longe disso, quem verdadeiramente me conhece, sabe. Escrevo como uma forma que Deus me deu de aliviar a minha dor. Na intenção de dividir e ajudar com aquilo que Deus tem me dado. Porque: " Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante" Ec 4:9-10. Obrigada aos que tem me ajudado a levantar.

Nada como o tempo!






Reflexão do dia



"Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Mas, se viver na carne resultar para mim em fruto do meu trabalho, não sei então o que hei de escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor; todavia, por causa de vós, julgo necessário permanecer na carne." (Filipenses 1-21:24)




Sobre o parto

Em tempos de calorosas discussões sobre os tipos de parto e suas indicações e, principalmente, após a divulgação da "pesquisa" realizada pela Fiocruz sobre o "alarmante" número de cesáreas no Brasil, creio que valha a pena uma reflexão! 

Vamos por partes. Começamos pela tão aclamada "humanização" do parto, que remete a muitos ao parto natural. Ledo engano! Todo e qualquer parto, seja ele natural ou cesáreo, pode e deve ser humanizado. A humanização não está relacionada a via de parto e sim ao envolvimento e cuidado de todos aqueles participantes deste evento. E por que mesmo eu decidi escrever sobre isso? Vejo hoje uma disseminação de casas de parto, partos em casa e etc...e isso muito me preocupa. Por que? Porque eu sou médica e não quero passar a competência do parto? De forma alguma (nem obstetra eu sou rs). Sabe por que me preocupa? Porque há pouco menos de 2 meses me tornei mãe através de um parto natural, induzido sim porque não houveram contrações espontâneas, sem episiotomia (porque o meu obstetra entendeu que assim seria melhor - e eu confio nele, o que é o primeiro e mais importante passo quando se inicia um pré-natal) e com analgesia (iniciada no momento que as contrações para mim já estavam insuportavelmente dolorosas, com 9 centímetros de dilatação). Alguns podem pensar que por conta disso eu deva ser defensora fervorosa do parto vaginal. Não, não sou. Sou a favor de que cada gestante escolha para si a melhor forma de parto, aquela que fará com que ela se sinta mais confortável e segura em um dia tão cheio de emoções. 

Mas o que me preocupa mesmo são os partos domiciliares. Por que? Porque com tanta tecnologia criada pelo homem ao longo da história, com redução das taxas de mortalidade infantil e materna, considero o parto domiciliar um retrocesso. Calma, muita calma antes de contestar. Vou lhe contar uma história, a minha história. Realizei o meu pré natal da melhor forma que pude, com os melhores médicos, nunca faltei a uma única consulta, não deixei de realizar sequer um exame. Até o dia do meu parto, absolutamente todos os parâmetros indicavam que minha filha era completamente perfeita. Eis que fomos surpreendidos no momento do nascimento por um desconforto respiratório intenso, que depois foi constatado estar relacionado a uma hérnia diafragmática (doença gravíssima e na maioria das vezes fatal). Minha filha foi prontamente assistida por uma equipe de neonatologia e dispôs dos melhores equipamentos e tecnologias disponíveis (óxido nítrico, ventilador de alta frequência...). E sabe porque ela foi assistida desta forma? Pura e simplesmente porque ela estava dentro de um hospital. Imagina a minha eterna culpa se tivesse decidido ter a minha filha na sala de casa?! Teria carregado ela morta no meu colo logo após o nascimento.

Minha filha não sobreviveu, porque essa foi a vontade de Deus, mas não existe em mim absolutamente nenhum sentimento de culpa, porque fiz e foi feito absolutamente TUDO que estava ao nosso alcance. Por favor, pense muito antes de tomar qualquer decisão. A culpa é um dos piores sentimentos que podemos carregar e ela pode durar uma vida toda.

Saudade é o amor que fica!

"Texto do Dr. Rogério Brandão, Médico oncologista:

Como médico cancerologista, já calejado com longos 29 anos de atuação profissional (...) posso afirmar que cresci e modifiquei-me com os dramas vivenciados pelos meus pacientes. Não conhecemos nossa verdadeira dimensão até que, pegos pela adversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além.


Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional... Comecei a freqüentar a enfermaria infantil e apaixonei-me pela oncopediatria. Vivenciei os dramas dos meus pacientes, crianças vítimas inocentes do câncer. Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento das crianças.


Até o dia em que um anjo passou por mim! Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada por dois longos anos de tratamentos diversos, manipulações, injeções e todos os desconfortos trazidos pelos programas de químicos e radioterapias. Mas nunca vi o pequeno anjo fraquejar. Vi-a chorar muitas vezes; também vi medo em seus olhinhos; porém, isso é humano!

Um dia, cheguei ao hospital cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. A resposta que recebi, ainda hoje, não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.

— Tio, disse-me ela — às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores... Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade. Mas, eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!

Indaguei: — E o que morte representa para você, minha querida?
- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e, no outro dia, acordamos em nossa própria cama, não é? (Lembrei das minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, com elas, eu procedia exatamente assim.) É isso mesmo.
— Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!

Fiquei "entupigaitado", não sabia o que dizer. Chocado com a maturidade com que o sofrimento acelerou, a visão e a espiritualidade daquela criança. E minha mãe vai ficar com saudades - emendou ela.

Emocionado, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei:
- E o que saudade significa para você, minha querida?
— Saudade é o amor que fica!

Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor, mais direta e simples para a palavra saudade: é o amor que fica!

Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas, deixou-me uma grande lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores. Quando a noite chega, se o céu está limpo e vejo uma estrela, chamo pelo "meu anjo", que brilha e resplandece no céu.

Imagino ser ela uma fulgurante estrela em sua nova e eterna casa.
Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que me ensinaste, pela ajuda que me deste. Que bom que existe saudade! O amor que ficou é eterno."





E definitivamente nossa Catarina não nasceu para esta vida! E a saudade é o amor que fica!




Do dia






Porque só o amor vale a pena!

                



Hoje um amigo compartilhou este texto pela manhã. Comecei a meditar sobre ele (esse período tem me permitido refletir sobre muitas coisas!), comecei a pensar em muitas coisas que programei e outras tantas que passei neste período.

Nos mudamos, procurando um lugar que atendesse as nossas necessidades e as da nossa filha. Dois quartos, parquinho, piscina...e lá fomos nós. Começamos então a pensar em como seria o quarto, compramos os móveis, compramos cada uma das infinitas coisas que constam nas listas de enxoval, tivemos a sorte de termos pais, irmãos e cunhada para trazer uma infinidade de coisas dos EUA e ganhamos inúmeros presentes. Colamos juntos cada um dos adesivos da parede. Enfim, tudo pronto. 

Entrávamos todos os dias no quarto e passávamos vários minutos imaginando como seria. E não foi. Não foi da forma como nós imaginamos e como gostaríamos que fosse, mas foi exatamente da forma como Deus quis. E o quero dizer com tudo isso? Estou apenas me martirizando pensando em cada um destes detalhes? Não! Somente não quero perder a oportunidade de aprender absolutamente tudo que Catarina veio nos ensinar. Quero dizer apenas que, apesar de não termos tido a oportunidade de levá-la para casa, de vestí-la com suas roupas e colocá-la no bercinho, pudemos oferecer a ela o que havia de melhor em nós. De tudo que pudemos comprar, Catarina usou apenas uma manta e um par de luvas e meias. Mas, durante os 12 dias que ela esteve por aqui, nós pudemos dar a ela o que havia de melhor em nós, todo o amor que existia nos nossos corações, pudemos cobrí-la de beijos e de carinhos e isso foi suficiente. Fizemos o nosso melhor! Passamos horas sentados ao lado dela na UTI simplesmente para estarmos juntos. 

Hoje, exatamente hoje, completa um mês que não temos mais nossa pequena entre nós. Como um empréstimo, nós a devolvemos ao Pai. Sim, valeu a pena! Valeu muito a pena! O que eu quero dizer para os papais e futuros papais é que o amor vale a pena, só ele vale a pena. Minha filha não vestiu nenhuma roupinha, nunca entrou no seu quarto ou, se quer, brincou no parquinho! Mas ela foi intensamente amada.

Por isso, não percam a oportunidade de amar! Amor é atitude e não sentimento. Simplesmente ame, esteja perto, carregue no colo (ainda que já sejam adultos), encha de beijos, use o tempo juntos, almocem juntos, vão a praia juntos, façam nada juntos. Isso é tudo que podemos levar e é tudo que vale verdadeiramente a pena. Não deixem de trabalhar, façam planos, viagem, comprem ipads, iphones e afins, não há mal nenhum nisso. Só não permitam que isso se torne mais importante e que isso roube o nosso tempo de amar. Eu, como mãe que hoje não tem mais sua filha nos braços, faço uma apelo para os que ainda tem; amem, amem de todo o coração, porque nós não sabemos do dia de amanhã e amanhã pode ser tarde demais!

Sobre o dia das mães

Hoje é o meu primeiro dia das mães como mãe! E ainda que me pareça triste e que os céus tenham chorado todas as minhas lágrimas, sei que, na verdade, sou privilegiada. Conheci um amor que jamais havia sentido antes, senti meu coração bater fora do meu peito, senti um aperto tão intenso que chegava a doer e senti também o meu coração parar! No dia que você se foi, uma parte do meu coração parou e se foi com você. 

Do dia da sua chegada até a sua partida, surgia em mim uma nova mulher! Ainda sentindo uma dor insuportável, sei que hoje sou uma pessoa melhor, uma filha melhor, uma esposa melhor, uma amiga melhor e sou MÃE, o que dispensa qualquer adjetivo! Você me fez melhor, minha filha! Hoje só Deus sabe como o meu desejo era tê-la nos meus braços, te cobrir de beijos e te apertar e congelar este momento para tê-la sempre comigo. Mas sei que os pensamentos do Senhor são mais altos do que os meus pensamentos e sei ainda que o colo que você está hoje, minha filha, é muito melhor do que eu poderia dar, os beijos são mais doces e este é verdadeiramente o lugar que desejo que você esteja por toda a eternidade. 

Minha Cacá, te amei intensamente durante os 9 meses que esteve na minha barriga! Mas, no dia que você chegou e olhou nos meus olhos, conheci um amor extraordinário e pude então chegar mais perto da compreensão do amor de Deus por nós através do sacrifício de Jesus! Te amarei para sempre!







E assim começou a história de Catarina

Exatamente no dia 07/08/2013, após um teste de farmácia, descobrimos que estávamos "grávidos". Não, não havíamos planejado...depois de romper algumas barreiras, eis que nossa princesa surgia. Fomos todos, nós, nossos familiares e amigos, tomados de imensa alegria. Curtimos cada um dos dias dos 9 meses em que nossa princesa Catarina esteve na minha barriga. Fomos cuidadas por nosso querido obstetra Dr Rone Peterson, que com toda competência nos fez sentir seguras e muito bem cuidadas. 

No dia 04/04/2014, por volta das 4:00 horas da manhã, minha bolsa rompeu...tomada por um certo nervosismo, nos arrumamos, comunicamos ao obstetra e familiares e nos dirigimos para a maternidade Santamaria - Hospital Português. Como não entrei em trabalho de parto naturalmente, foi necessário induzir o parto com uso de medicações (ocitocina). Após algumas horas de trabalho de parto, eis que às 18:46 horas, nascia Catarina. Fomos tomados de imensa alegria, seguida de intensa angústia. A nossa pequena não chorava, precisou ser levada pela equipe da neonatologia para os cuidados iniciais, sendo necessário levá-la para a UTI neonatal. Após alguns minutos, suspeitaram do diagnóstico de hérnia diafragmática congênita (defeito na formação do diafragma que faz com que o conteúdo da barriga se desloque para o tórax). Diagnóstico esse confirmado menos de uma hora depois. 

A partir daí, travamos uma batalha dia após dia para que pudéssemos ter nossa bonequinha conosco. Mas essa não foi a vontade do Pai. Há exatamente 1 semana, no dia 16/04/2014, o nosso amor foi morar com Papai do céu. Sim...choramos, nos desesperamos, sofremos e essa dor ainda não passou. Mas nós cremos em um Deus de poder e propósitos e, mesmo diante de tamanha dor, sabemos que Sua vontade é boa, perfeita e agradável. Talvez nunca venhamos a compreender o porquê de tudo isso, mas estamos seguindo em frente, crendo que, no Grande dia, estaremos juntos novamente. Temos convicção que somos privilegiados por termos sido escolhidos para sermos pais de um anjo, um ser tão especial que tão logo o Pai quis ter com ela! 

Ainda diante de tanta dor, nosso coração transborda de gratidão por reconhecermos que, como casal e família, somos especiais para Deus. Conhecemos em tão pouco tempo o significado de um amor que desconhecíamos. Amamos e fomos amados de uma forma sobrenatural, que somente o amor de Deus pode explicar. 

Aos nossos familiares e amigos, jamais teremos palavras para agradecer por tudo que vocês nos fizeram. Aos que estiveram do nosso lado, aos que estiveram conosco através de ligações e mensagens e aos que preferiram o silêncio, por todas as orações, por sabermos que somos amados e queridos por tantas pessoas. Ao nosso querido obstetra que durante todo o processo esteve ao nosso lado, fazendo muito mais do que seu trabalho, mas se doando em amor. Um agradecimento especial à toda equipe da neonatologia da maternidade Santamaria - Hospital Português, vocês foram simplesmente sensacionais!!! O amor com que vocês cuidam dos nossos tesouros chega a emocionar. Obrigada por estarem ao lado da nossa princesa nos momentos em que não podíamos estar. Um agradecimento especial aos nossos anjos da guarda, Dr Luiz e Dra Analice, a forma como vocês nos amaram e amaram a nossa filha, nos faz continuar acreditando no ser humano e que o amor supera todas as coisas. Ainda que passássemos todos os dias agradecendo por cada minuto que vocês se dedicaram a nossa princesa, jamais seríamos capazes de fazer o suficiente. Oramos para que Deus, que sonda os corações, olhe sempre por vocês e suas famílias e supra cada uma das suas necessidades! À equipe da cirurgia pediátrica, em especial a Dra Niele! Obrigada por, mesmo diante das más notícias, terem olhado nos nossos olhos, por terem chorado conosco e por terem amado o nosso maior tesouro! À equipe da cardiopediatria, por terem estado conosco também durante todos esses dias e terem lutado, com as forças que tínhamos e as que não tínhamos, para que fosse feito o melhor! 

Sim, ainda dói muito e sabemos que um pedaço de nós se foi junto com nossa princesa! Mas o Senhor, em sua infinita misericórdia, tem transformado toda a dor em saudade! Seguimos em frente, crendo que o choro pode durar uma (ou várias) noite (s), mas a alegria virá pela manhã. E aqueles que choraram conosco, se alegrarão neste dia. Da eternamente mãe de Catarina. 




O (re) começo...

Após o incentivo de alguns amigos próximos, me senti encorajada a começar a escrever este blog, o "mãe de Catarina"! Sem nenhuma pretensão maior, decidi fazê-lo como instrumento para aliviar a minha dor. Não gostaria de me prolongar nesta primeira postagem e espero que este seja apenas o primeiro passo nesta viagem que começamos hoje ou, quem sabe, há 27 anos atrás. Prazer, eu sou Juliana, e você? Sou uma menina mulher, que gosta de salto alto, mas que gosta mesmo de uma boa sapatilha (ou quem sabe uma chuteira?!). Fala alto. Fala demais. Gosta de sol, da brisa do mar. Sonha conhecer a Disney. Conheceu Paris e se apaixonou. Ama doce. Ama pipoca com televisão. Ama rir. Ama os amigos. Ama a família. Ama o marido. Ama a Deus. E ama intensa e desesperadamente Catarina. Esta é a mãe de Catarina. Eu sou a mãe de Catarina. Acho que hoje a minha melhor definição é esta. Juliana, a mãe de Catarina.

Vou replicar aqui algumas "reflexões facebookianas" para que quem não me conhece, comece a conhecer a minha história e o porquê de começar tudo isso aqui.