quinta-feira, 19 de junho de 2014

A dor do retorno

Cá estou eu de plantão. A auxiliar de enfermagem me chama para fazer uma ultrassonografia. Como eu estava ocupada em um outro laudo, ela sentou ao meu lado e comentou: "Dra, fiquei com pena da mãe do menininho que a senhora vai fazer o exame agora. Ela disse que está sendo muito difícil retornar para este hospital. Na hora imaginei que ela tivesse perdido algum parente, um pai, uma mãe, não sei. Ai ela disse que perdera seu filho de 9 anos depois de um acidente de carro faziam 4 meses!" Imediatamente, compartilhei da dor desta mãe. Senti vontade de abraça-la, de dizer que eu sentia muito e que sabia exatamente que dor era aquela que ela estava sentindo. Não o fiz. Mas foi inevitável novamente lembrar de tudo que passei. Exatamente 1 mês e 1 dia após me despedir da minha filha, precisei retornar a maternidade. Estava apresentando um sangramento no pós parto tardio e precisei ser submetida a uma curetagem para investigação. Assim como a mãe do meu paciente, eu entendo o quanto é difícil superar e retornar ao palco das nossas maiores dores. Espero que, com o olhar e o cuidado, eu tenha conseguido repartir com ela a dor. As circunstâncias nos fizeram mais fortes e nos resta seguir em frente e desbravar novos palcos, e que estes novos palcos testemunhem de momentos mais alegres.   

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