quarta-feira, 11 de junho de 2014

Sobre o parto

Em tempos de calorosas discussões sobre os tipos de parto e suas indicações e, principalmente, após a divulgação da "pesquisa" realizada pela Fiocruz sobre o "alarmante" número de cesáreas no Brasil, creio que valha a pena uma reflexão! 

Vamos por partes. Começamos pela tão aclamada "humanização" do parto, que remete a muitos ao parto natural. Ledo engano! Todo e qualquer parto, seja ele natural ou cesáreo, pode e deve ser humanizado. A humanização não está relacionada a via de parto e sim ao envolvimento e cuidado de todos aqueles participantes deste evento. E por que mesmo eu decidi escrever sobre isso? Vejo hoje uma disseminação de casas de parto, partos em casa e etc...e isso muito me preocupa. Por que? Porque eu sou médica e não quero passar a competência do parto? De forma alguma (nem obstetra eu sou rs). Sabe por que me preocupa? Porque há pouco menos de 2 meses me tornei mãe através de um parto natural, induzido sim porque não houveram contrações espontâneas, sem episiotomia (porque o meu obstetra entendeu que assim seria melhor - e eu confio nele, o que é o primeiro e mais importante passo quando se inicia um pré-natal) e com analgesia (iniciada no momento que as contrações para mim já estavam insuportavelmente dolorosas, com 9 centímetros de dilatação). Alguns podem pensar que por conta disso eu deva ser defensora fervorosa do parto vaginal. Não, não sou. Sou a favor de que cada gestante escolha para si a melhor forma de parto, aquela que fará com que ela se sinta mais confortável e segura em um dia tão cheio de emoções. 

Mas o que me preocupa mesmo são os partos domiciliares. Por que? Porque com tanta tecnologia criada pelo homem ao longo da história, com redução das taxas de mortalidade infantil e materna, considero o parto domiciliar um retrocesso. Calma, muita calma antes de contestar. Vou lhe contar uma história, a minha história. Realizei o meu pré natal da melhor forma que pude, com os melhores médicos, nunca faltei a uma única consulta, não deixei de realizar sequer um exame. Até o dia do meu parto, absolutamente todos os parâmetros indicavam que minha filha era completamente perfeita. Eis que fomos surpreendidos no momento do nascimento por um desconforto respiratório intenso, que depois foi constatado estar relacionado a uma hérnia diafragmática (doença gravíssima e na maioria das vezes fatal). Minha filha foi prontamente assistida por uma equipe de neonatologia e dispôs dos melhores equipamentos e tecnologias disponíveis (óxido nítrico, ventilador de alta frequência...). E sabe porque ela foi assistida desta forma? Pura e simplesmente porque ela estava dentro de um hospital. Imagina a minha eterna culpa se tivesse decidido ter a minha filha na sala de casa?! Teria carregado ela morta no meu colo logo após o nascimento.

Minha filha não sobreviveu, porque essa foi a vontade de Deus, mas não existe em mim absolutamente nenhum sentimento de culpa, porque fiz e foi feito absolutamente TUDO que estava ao nosso alcance. Por favor, pense muito antes de tomar qualquer decisão. A culpa é um dos piores sentimentos que podemos carregar e ela pode durar uma vida toda.

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