sexta-feira, 27 de junho de 2014

E minha eternidade durou apenas alguns segundos

Durante este período, passei por uma grande frustração e por várias outras pequenas frustrações. A maior delas foi perder a minha filha, como todos vocês já sabem. As pequenas foram várias: não ter amamentado, enquanto meu peito jorrava leite; passar VÁRIOS dias sem poder tocar ou falar com minha filha (por conta da hipertensão pulmonar, quanto mais agitada ela estivesse pior ficada seu quadro); ter alta da maternidade e ir embora sozinha e muitas outras.

Mas a "pequena" frustração que mais me marcou foi o fato de não ter podido carregá-la no colo depois do dia do seu nascimento. Não é incomum eu reviver esta frustração e sentir uma tristeza profunda. Mas foi pensando sobre isso que Deus me mostrou seu cuidado com todas as coisas. 

Sempre quis ter parto natural. Minha bolsa rompeu, mas eu não entrei em trabalho de parto. Antes, quando eu pensava em indução do parto, sempre me dava um frio na espinha. Eu achava que não ia dar conta do "tranco". Mas no dia que aconteceu, não tive muito tempo para raciocinar. Meu obstetra entrou no quarto e falou: " A ordem das coisas se inverteu um pouco. Sua bolsa rompeu e você não está tendo contrações. Vamos precisar induzir o parto!". Eu prontamente respondi: "Ok!"

Mal sabia eu que aquela decisão me permitiria viver um momento único, momento que eu teria sido privada caso tivesse optado pela cesárea. 

Acredito que vocês saibam que quando o bebê nasce de parto natural, imediatamente o obstetra o entrega para a mãe. E eu consigo me lembrar claramente deste momento. Minha princesa nasceu e imediatamente o obstetra a colocou em cima da minha barriga. Ela abriu os olhinhos e olhou nos meus. Jamais conseguirei esquecer este momento. Como um amigo me disse: "Nossa eternidade dura apenas um dia!" A minha durou apenas alguns segundos, talvez um minuto. Os segundos ou minuto mais preciosos da minha vida.

Obrigada, Pai, pela oportunidade de carregar a minha filha mesmo que por poucos segundos, talvez um minuto, e me fazer acreditar que tudo valeu a pena! 



Minha eternidade!
                           

2 comentários:

  1. Ju, eu gosto tanto de ler seu blog... Esses dias tem sido de reflexão para mim. Como obstetra, dizer à mãe que seu filho não está bem, que está grave, que foi entubado e que é preciso ter fé é sofrível. .. Mas o contrário? O bebê nasceu bem, após uma cesariana de urgência por edema agudo de pulmão da mãe , pré-eclampsia e pneumonia.. ufa! A mãe não teve oportunidade de conhecer o seu bebê. .. ou o bebê não teve a oportunidade de conhecer a mãe? ? Quando leio o que você escreve aqui, de alguma forma reflito sobre tudo o que vivo e o que sinto. O que sinto pela minha filha, pela minha família, pelas pacientes e seus pequenos bebezinhos. Seus pequenos tesouros. ..

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    1. Pois é, Lys! Como obstetras, acredito que vocês estão mais preparados para "dar a vida", apesar de saberem que os desfechos nem sempre são alegres. O obstetra vivencia durante noves meses todas as alegrias e toda a expectativa da mãe e dos familiares e isso leva a um certo grau de intimidade. Nos desfechos tristes e principalmente não esperados, como no meu caso, é quase impossível não se envolver e sofrer um pouco junto. Mas a forma como nós fazemos a medicina é o que faz toda a diferença. Saber que eu fui super bem trata e super bem cuidada no pré-natal, me dão hoje a segurança de saber que tudo que podia ser feito, foi feito. E que um sinto muito e um simples abraço fizeram toda a diferença. Hoje a minha forma de fazer medicina mudou totalmente. A forma como eu e Catarina fomos amadas e cuidadas me gerou uma transformação imensa.

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